terça-feira, 30 de outubro de 2007

Análise: Mensagem - Fernando Pessoa (Vestibular UEL 2007)

“ Mensagem” de Fernando Pessoa.
Mensagem (1934), foi o único livro em língua portuguesa publicado por Pessoa.
Os poemas do livro estão organizados de forma a compor uma epopéia fragmentária, em que o conjunto dos textos líricos acaba formando um elogio de teor épico a Portugal. Traçando a história do seu país, Pessoa segue por um nacionalismo místico de caráter sebastianista.
O livro Mensagem está dividido em três partes: Brasão, Mar português e O Encoberto.
Na primeira, conta-se a história das glórias portuguesas. Na segunda, são apresentadas as navegações e conquistas marítimas de Portugal. Na terceira, é apresentado o mito sebastianista de retorno de Portugal às épocas de glória.
A primeira parte de Mensagem, Brasão, se estrutura como o brasão português, que é formado por dois campos: um apresenta sete castelos, o outro, cinco quinas. No topo do brasão, estão a coroa e o timbre, que apresenta o grifo, animal mitológico que tem cabeça de leão e asas de águia. Assim se dividem os poemas desta parte, remetendo ao brasão de Portugal. Versam sobre as grandes figuras da história de Portugal, desde Dom Henrique, fundador do Condado Portucalenses, passando por sua esposa, Dona Tareja, e seu filho, primeiro rei de Portugal, Dom Afonso Henriques, até o infante Dom Henrique (1394-1460), fundador da Escola de Sagres e grande fomentador da expansão ultramarina portuguesa, e Afonso de Albuquerque (1462-1515), dominador português do Oriente. Até o mito de Ulisses, que teria fundado a cidade de Ulissepona, depois Lisboa, é apresentado:
"O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo."
A segunda parte, Mar português, apresenta as principais etapas da expansão ultramarina que levou Portugal a ocupar um lugar de destaque no mundo durante os séculos XV e XVI:
"E ao imenso e possível oceano
Ensinam estas Quinas, que aqui vês,
Que o mar com fim será grego ou romano:
O mar sem fim é português."
Já a última parte, O Encoberto, apresenta o misticismo em torno da figura de Dom Sebastião, rei de Portugal cuja frota foi dizimada em ataque aos mouros em 1578. Muitas previsões, como a do sapateiro Bandarra e a do padre Antônio Vieira, prevêem o retorno de Dom Sebastião para resgatar o poderio de Portugal, criando o Quinto Império, marcando a supremacia de Portugal sobre o mundo:
"Grécia, Roma, Cristandade,
Europa, os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu dom Sebastião?"
3 – Disserte sobre os conflitos espelhados na poesia de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa.
Heterônimo mais próximo do Ortônimo de pessoa , Álvaro de Campos representa e simboliza o homem de sua época. Em uma relação que aparece na obra de Antônio Quadros, estudioso e critico literário, em que heterônimos e ortônimos são comparados aos quatros elementos, Álvaro de Campos simboliza a água.
Em sua poesia, teremos a representação desse homem moderno, que reflete e exalta o progresso e a modernidade. Tais como: as máquinas, indústrias, grandes construções, avanços laboratoriais e a nova ordem política.
“ Eh-lá-hô fachadas das grandes loja!,
Eh-lás-hô elevadores dos grandes edifícios!
Eh-lá-hô recomposições ministeriais!”
Porém, ele analisa as conseqüências causadas por esse novo modo de vida, a mudança comportamental das pessoas, com suas novas profissões, sempre apressadas, a lotar e esvaziar os ônibus, e tendo que gastar seu tempo e dinheiro nas grandes lojas de fachadas luminosas. E como uma visão profética descreve qual será o fim desse avanço.
“ (...) E cuja filha aos oito anos(....)
Masturbam homens de aspectos decente nos vão de escada.(...)
Eh-lá grandes desastres de comboios!
Eh-lá desabamentos de galerias de minas!
Eh-lá naufrágio delicioso dos grandes transatlântico!
Eh-lá-hô revoluções aqui, ali ,acolá,
Alterações de constituições, guerras, tratados, invasões(...)
Por isso, vemos espelhado na poesia de Campos, a solidão do homem moderno, impotente e incapaz de se adaptar a esse novo modo de vida, a tristeza de perder sua autonomia e ser transformado em números nas fábricas, rosto na multidão que passa com pressa, quase o atropelando, um homem que vê o mundo atrás de sua
janela, enquanto ninguém sabe que ele está ali. Assim, o poeta torna-se agressivo e viril, cheio de melancolia, preso ao isolamento voluntário.
No plano da Metafísica, Campos assemelha-se a Pessoa ortônimo, pois como ele, acredita na existência da alma, e o corpo é visto como uma prisão onde só há sofrimento, e só a morte pode libertá-lo.
Quanto a linguagem, notamos em sua poesia o uso de onomatopéias, “r-r-r-r-r das engrenagens”, z-z-z-z-z das máquina”, e também das palavras estrangeiras, “Canadian-Pacific, foule, souteneur, etc...”.
Seus versos assumem as características dos versos modernos, desprovidos de metrificação, quase sem rimas, variações das sílabas e das estrofes.
4 – Disserte sobre as reflexões presentes em “O Guardador de Rebanhos”, de Alberto Caeiro.
Heterônimo que mais se distancia do ortônimo de Pessoa, destaca-se por sua afinidade com as coisas naturais e seu único desejo, o de ser poeta.
“Ser poeta não é uma ambição minha,
É minha maneira de estar sozinho”.
É classificado por Antônio Quadros, em sua relação com os quatros elementos como sendo a terra, que tanto será exaltada em seus versos.
Caeiro em sua poesia se mostra tipicamente mundano, ligado as experiência sensoriais, sua felicidade é alcançada quando ele vê e sente as coisas simples do mundo. O poeta nega a metafísica das coisas e diz que misterioso é haver quem pense no mistério e que não devemos pensar nas coisas e sim senti-las
“ Pensar incomoda como andar à chuva.
Quando o vento cresce e parece que chove mais(...)
Pensar é estar doentes dos olhos(...)
Pensar uma flor é vê-la, cheirá-la”
Por negar a existência da metafísica, podemos considera-lo pagão, pois ele não acredita no que não possa ver, logo não acredita em Deus e diz que só acreditaria nele se ele entrasse pela porta de seu quarto e dissesse: “Aqui estou”. Porém adverte.
“Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e o luar
Então acredito nele(...)
Para que chamo-lhe Deus?
Chamo-lhe flores e arvores e montes e luar”
Em perfeita consonância com sua busca de simplicidade e espontaneidade, Alberto Caeiro escreve versos livres (sem métrica regular) e brancos (sem rimas).
5 – Disserte sobre as reflexões presentes em “O Cancioneiro”, de Pessoa ortônimo.
Em o Cancioneiro de Fernando Pessoa Ortônimo ( orto – reto , próprio + nimo- referente à nome), encontraremos uma reflexão que é própria do “homem” Pessoa. Comecemos pela tristeza que nos é revelada nos versos de seu cancioneiro, como algo que é imposto aos homens, e essa, só passa com a morte ou instantaneamente com o sono. Para Antônio Quadros, Pessoa ortonimo, classifica-se como o fogo.
Lembremos de quem foi o “homem” Pessoa, verdadeiro caçador da verdade ( Metafísica) , e isso, segundo seus biógrafos, ele foi buscar no espiritismo, na alquimia, na gnose, e por último no álcool e nas drogas. Em sua poesia também não podia ser diferente. O poeta coloca-se como alguém que é controlado por algo maior, a alma .
“De quem é o olhar
Que espreita por meus olhos?
Quando penso que vejo,
Quem continua vendo”
E assim, na sua busca insensante, o poeta acaba apegando-se à solidão, onde só a reflexão e a observação parece aliar-se a seu intento dando um tom de efemeridade às coisa mundana.
Um tom de saudosismo de algo ainda não conhecida transborda a alma do poeta.
“Nesta hora mais que em outra choro
O que perdi
Em cinza e ouro rememoro
E nuca eu o vi”.
Essa busca só terá um final na hora derradeira, para quem o poeta clama.
“Toma-me, ó noite eterna
Nos teus braços
E chama-me teu filho”.
Pessoa , apesar de modernista, apresenta em sua poesia, características do Simbolismo, tais como: o saudosismo em seu tema; a beleza métrica com sua rimas perfeitas, abundância de paralelismo e aliterações, e sua maneira intelectualizada de compor.
Organização: Professor Francisco Muriel.

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