sábado, 9 de agosto de 2008

Análise da lira I de Marília de Dirceu

Maria de Dirceu - Tomá Antonio Gonzaga
Na poesia árcade o poeta tem a preocupação constante em nos passar com o tema, a busca pela clareza, simplicidade e equilíbrio. Para isso usa como pano de fundo a natureza e o sentimento bucólico.
A cultura grega tem papel importantíssimo, pois dela ele serve-se em muitos casos e faz-se necessário sua compreensão para melhor entender a passagem em liras do poema “Marília de Dirceu”, que reflete a visão estereotipada da mitologia, retratando a mulher ideal, em que no próprio nome “Marília” já vemos a junção de dois termos: mar e ilha, ou seja a beleza e poder buscada pelos gregos através de ilhas e mares. Dirceu nos lembra os grandes conquistadores e desbravadores gregos.
“Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,”
Que viva de guardar alheio gado;
Neste verso o eu-lírico se dirige à mulher da maneira informal apresentando-se e se auto afirmando ao usar o pronome pessoal “eu” e o possessivo “sou” . Já o pronome indefinido “algum” nos leva a pensar que ele é alguém bem mais que um simples vaqueiro que cuida de gado alheio, ele afirma ter seu próprio rebanho. E os termos “vaqueiro”, “viva” “gado” nos lembra a simplicidade e bucolismo da aurea mediocritis , é um traço da poesia horaciana, que idealizava a vida no campo, vivendo sem luxos.
“De tosco trato, d’ expressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto;”
O eu-lirico vem nos mostrar que preocupa-se com a aparência e suas expressões são finas, é vaidoso como homem burguês, mas conhece o campo como o camponês. Possui e afirma dar muita importância a seus bens materiais com o termo “tenho próprio casal” tem orgulho em possuir casa própria
“Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.”
A fartura que o abastece é também rica, fina em especiarias não comuns ao camponês e sim ao homem bem colocado na sociedade. É o ideal burguês presente na fala do poeta., o orgulho em poder se sustentar e aos demais de sua casa com seu próprio ganho.
“Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!”
Com estes versos ele nos afirma ter tudo que possui graças à sorte, esses versos terão efeito minimônico no decorrer de tudo a lira.
“Eu vi o meu semblante numa fonte,
Dos anos inda não está cortado:”
Aqui percebe-se o retorno à mitologia grega com a lembrança do mito de Narciso, que se envaidecia ao se ver refletido na água. O eu-lírico também se olhar e se admira por ainda não possuir rugas apesar de ser mais velho que a jovem Marília.
“Os pastores, que habitam este monte,
respeitam o poder do meu cajado”
Ele novamente mostra-nos seu poder diante dos demais habitantes da região, tem mais poder e é respeitado como tal.
“Com tal destreza toco a sanfoninha,
Que inveja até me tem o próprio Alceste:
Ao som dela concerto a voz celeste;
Nem canto letra, que não seja minha,”
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
O eu –lirico orgulha-se e diz ser admirado pelo próprio grego poeta das lágrimas tristes. E diz ainda que suas letras não de própria autoria, negando assim que esteja fazendo cópia de alguma obra literária.
“Mas tendo tantos dotes da ventura,
Só apreço lhes dou, gentil Pastora,”
Aqui ele a pede em casamento, pois já pode, já possui bens necessários.
“Depois que teu afeto me segura,
Que queres do que tenho ser senhora.
É bom, minha Marília, é bom ser dono”
O eu-lírico nos mostra que o querer bem é importante e vem em primeiro plano, mas possuir bens agrada também.
“É bom, minha Marília, é bom ser dono”
De um rebanho, que cubra monte, e prado;”
Reafirma ser capitalista, estar interessado na segurança que o poder econômico lhes trarão.
“Porém, gentil Pastora, o teu agrado
Vale mais q’um rebanho, e mais q’um trono.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!”
Observamos que o eu-lírico coloca nestes versos um toque de romantismo ao usar a conjunção “porém” que dá idéia de adversidade, ou seja , nem tudo parece ser como é , existe para ele o amor que é muito mais importante que tudo isso. E ele faz questão de mostrar isso à amada, substituindo os bens materiais, pelo amor que tem por ela.
“Os teus olhos espalham luz divina,
A quem a luz do Sol em vão se atreve:
Papoula, ou rosa delicada, e fina,
Te cobre as faces, que são cor de neve.
Os teus cabelos são uns fios d’ouro;
Teu lindo corpo bálsamos vapora.
Ah! Não, não fez o Céu, gentil Pastora,
Para glória de Amor igual tesouro.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!”

A idealização da mulher para o eu-lírico é essencial, assim as sensações imediatas são muito importantes para a conquista, pois ela ficará fascinada com palavras que a valorizem. Ele usa um excesso de metáforas ao longo de toda a extrofe. Comparando-a com “luz divina”, “sol”, “rosa” “neve” “ouro” “balsamo”, tesouro” ou seja, tudo que uma mulher gosta, ser admirada e comparada à coisas boas e belas.
“Leve-me a sementeira muito embora
O rio sobre os campos levantado:
Acabe, acabe a peste matadora,
Sem deixar uma rês, o nédio gado.
Já destes bens, Marília, não preciso:
Nem me cega a paixão, que o mundo arrasta;
Para viver feliz, Marília, basta
Que os olhos movas, e me dês um riso.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!”
Todo a estrofe reflete a fugere urbem, pois o eu lírico raciocina e nos mostra que é possível ter uma vida simples no campo, longe de toda complicação da cidade, ele consegue mostrar-se para a amada sendo racional ao usar a conjunção aditiva “nem” para dizer que apesar de não se importar tanto com os bens ele também não ela não deixa se levar pela cegueira da paixão avassaladora que sente por ela. E quer apenas como retribuição a esse amor um “riso”.
“Irás a divertir-te na floresta,
Sustentada, Marília, no meu braço;
Ali descansarei a quente sesta,
Dormindo um leve sono em teu regaço:”
Enquanto a luta jogam os Pastores,
E emparelhados correm nas campinas,
Toucarei teus cabelos de boninas,
Nos troncos gravarei os teus louvores.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!”
A amada terá uma vida plena, feliz, aconchegante e protegida de tudo, se ficar com ele e acalenta-lo, aí vemos o locus amoenos, desejado pelo eu lírico.
“Depois de nos ferir a mão da morte,
Ou seja neste monte, ou noutra serra,
Nossos corpos terão, terão a sorte
De consumir os dois a mesma terra.
Na campa, rodeada de ciprestes,
Lerão estas palavras os Pastores:
"Quem quiser ser feliz nos seus amores,
Siga os exemplos, que nos deram estes."
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Faz projetos para o futuro, que estarão juntos até a morte. E sugere até o que deve ficar escrito na lápide de seus túmulos. Termina por nos dizer que sua amada é bela, e que por isso tem sorte.

Disponível em :http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=resumos/docs/deuslene acessao em junho de 2008

4 comentários:

Thaís disse...

Muito obrigada por essa analise. Me ajudou muito!

***Anísia ;-) disse...

>>>>>>***obbrigadoo***essa análise me ajudou muito:-),estava com dificuldades de analisar essa lira!!vlw!!!!<<<<<<<

Stephanie de Sá disse...

Muito boa sua análise

Anônimo disse...

nossa velew precisava muito da analise dessa lira