segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Análise do Conto: Sala de Armas – Nélida Piñon.(lit. brasil.)

Análise do Conto: Sala de Armas – Nélida Piñon.
Neste conto, vemos a inquietação do eu, marca registra da autora. É contada a história de um homem que resolve parar todas as suas atividades para esperar o momento derradeiro. “eu também não queria morrer(...). Coube-me porém antecipar-me aos desígnios.” Narrado em primeira pessoa, o conto vai se desenrolando com o reflexo que tal ato causou no âmbito familiar do narrador, que começa a contar que tudo não passa de uma tradição de família.
Também eu herdara do pai a fadiga de viver(...).”
“(...) o mistério do pai ingressara na minha vida.’
Assim, ele passa a narrar todos os atos de seu pai, quando também decidira abandonar tudo para dedicar-se à abertura de um buraco capaz de comportar ele, sua cama, seu cachorro, seu cavalo (ambos sacrificados), alguns objetos de cozinha e ainda seus trajes comuns.
“E quando ele começou a emagrecer, dedicou-se à abertura de um grande buraco na clareira mais iluminada da floresta. Ali o sol não consentia sombras. E não aceitando ajuda, o trabalho tomou-lhes os últimos anos.”
“(...) logo morreu. Amontoamos ele então entre suas coisas e colocamos a terra de onde havia saído.”
Após, incursionar o leitor pela história de seu pai, o narrador passa a contar a sua própria história, de como organizou tudo, para esperar a morte. Então e nesse momento em que há a fusão entre o narrador e o protagonista. “elegi-me então para acompanhar o pai em sua excentricidade.”
Assim, o narrador conta como preparou uma sala de sua casa fixando no teto objetos estimados por ele, entre esses objetos, caixões para ele, sua esposa e seus filhos, cada qual com seu nome, para evitar brigas.
“Obriguei mulher e filhos a abandonarem a região, a que regressariam quarenta dias depois(...)”
Ates do retorno do seus o protagonista se despede do mundo externo, da fauna e da flora que tanto gostava, pois ele entra para sempre na sala da qual nunca mais sairá. Os filhos ficam de guarda – “em troca do arsenal de prata”- para que nenhuma fraqueza do nosso protagonista impedissem o seu próprio intento. A mulher – “como prometer” – nunca mais voltara à sala onde ele fica deitado, imóvel, olhos fixos no teto, fixo em seus tesouro, esperando a morte. Um de seus filhos, o caçula parece ser o próximo herdeiro de tal excentricidade. O protagonista ainda reflete, em uma narrativa mais que psicológica, sobre a dificuldade de seu corpo ser colocado em um dos caixões fixados no teto.
A narrativa tem o seu final, com o narrador deitado, já muito magro, pois ele deixa também de se alimentar, esperando a morte, e de quando e quando, pensando que ele já morrerá, um dos filhos, o do turno, chama os irmãos para constatar. Mas logo se vê, sua “leve respiração, os sucessivos tremores, sensíveis como um olho fixo” e ele mas do que ninguém, espera pela morte, desabafando:
“Mas, apesar da minha intensa paixão, a morte parece não me desejar.(...)há como é difícil aguardar”
A ausência de um final coerente, algo do tipo, a morte do protagonista ou sua salvação por influência de um dos filhos, não acontece nesse conto, o que o deixa aberto para interpretações possíveis, mas principalmente para retratar a angústia do eu frente a existência, e o esperar por algo que por mais que desejemos não dependerá absolutamente de nós. É assim que o narrador retumba seu final, com a esperança que lhe chegue a morte ou em outras palavras, lhe chegue a nova vida, além de se revelar o segredo universal.
O narrador se encontra em um estado em que colhe o que plantou, pois, assim como seu pai, diante do sentimento de paixão e de preparo para a morte, deixa de comunicar-se com os seus:
“A anos não pronunciou uma só palavra”.
Por isto, seus filhos lutam para tentar segurá-lo em vida. Para que ele se “agarre a vida e levante do berço”. Mas ele parece irresoluto em sua decisão e, já discrentre da vida, aguarda apenas a morte:
“Quero morrer de olhos abertos, contemplando o teto.”
Organização: Professor Francisco Muriel

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