segunda-feira, 5 de novembro de 2007

O que é Literatura?

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Em sua origem , literatura vem da palavra latina literatura, que significava instrução, saber relativo à arte de escrever e ler, ou ainda, gramática, alfabeto, erudição (Vitor Manuel de Aguiar e Silva, Teoria da Literatura, pg.22)
A definição de literatura, atualmente pode ser considerada como algo subjetivo e instável, exatamente por estar ligada ao tempo e as sociedades que a produzem, bem como aquelas que a lêem.
Alguns formalistas Russos consideravam a “literariedade” como algo caracterizador da peculiaridade da linguagem. Nesse sentido, a literatura era um elemento intensificador da linguagem comum e permanecia afastada da fala cotidiana. Entre os formalistas russos estava Roman Jakobson que acreditava em uma organização particular da linguagem. A literatura, ainda era vista como um fato material, e o seu funcionamento poderia ser comparado ao uso de uma máquina, por exemplo.
Em contra partida, com o passar dos tempos, alguns pensadores, como Terry Eagleton, começaram a pensar na literatura como um discurso não pragmático, não dando à ela uma finalidade prática e imediata. Para eles, o que realmente importava não era a origem do texto, mas como as pessoas o consideram. Se elas decidirem que é literatura, então será confirmado. Dessa forma, é perceptível que a categoria literatura não pode ser eterna e imutável.
Com o tempo ocorreram várias mudanças nas sociedades, e a literatura também foi mudando, mas nunca deixou de estar ligada à história do homem, de refletir a cultura da época em que o texto foi escrito.
O caráter histórico da literatura perdura até hoje e tem sido um dos responsáveis pelo registro da evolução das sociedades, sem que se abandone, no entanto, a visão de literatura como arte da palavra.

· A relação da literatura com outros tipos de arte

Por vezes, a literatura se inspirou na pintura, na escultura ou na música, além de servir de tema para estas outras artes, especialmente à música vocal e de concerto.
No que diz respeito à pintura, a literatura tem tentado, por forma definida, alcançar os efeitos da pintura - tornar-se pintura com palavras. Em relação a sua proximidade com a música, a “musicalidade” em verso prova ser algo muito diferente da “melodia” em música: significa uma disposição de estruturas fonéticas, o evitar das acumulações de consoantes, ou simplesmente a presença de certos efeitos rítmicos.
A escultura e a arquitetura foram , porém, em medida muito superior a das outras artes – incluindo a literatura – determinadas por modelos clássicos e outros inspirados a partir destes.
Nesse sentido, verifica-se uma estreita relação entre essas várias artes – artes plásticas, literatura e música – porém cada uma delas tem uma evolução individual, com diferentes ritmos e elementos internos. Sem dúvida que elas mantenham constantes relações, intensamente complementares. Porém, devemos encarar a soma total das atividades culturais do homem como um sistema global de séries que evoluem por si próprias, cada uma delas com um conjunto de normas que não são necessariamente idênticas entre si.


Poesia e Prosa

· Poesia é forma de expressão literária que surgiu simultaneamente com a Música, a Dança e o Teatro, em época que remonta à Antiguidade histórica. Na própria fala - fruto da necessidade de comunicação entre elementos de uma comunidade primitiva - estão as raízes poéticas. Sabe-se que a comunicação imediata entre duas pessoas se dá pela palavra e pelo gesto, que estão tanto mais intimamente ligados quanto mais primitivo for o grupo. O gesto complementa sempre a fala, na proporção em que esta é limitada em sua inteligibilidade. Assim é que os gestos foram marcando o tom e o ritmo das palavras, até a caracterização individual dos primeiros contadores de seus feitos (caçadas) e dos feitos de sua tribo (guerras). A saliência cada vez maior do indivíduo que contava sobre a comunidade que o ouvia, acarretou a procura de fins artísticos em relação narrativa. (*)


O primeiro valor artístico destacável das narrativas primitivas foi o ritmo, a música da palavra já cantada ou simplesmente articulada. E até nas revoluções mais radicais das formas poéticas o ritmo continua a ser o elemento chave da expressão. É certo que a motivação rítmica varia entre o passado e o presente, como também sua perspectiva imediata: a fonética. Com o desenvolvimento cultural, os aspectos primários do ritmo e do som começaram a adquirir cores intelectuais, indivíduos que pensavam não mais em função estrita dos problemas da comunidade. Novas sugestões rítmicas foram aparecendo e permitindo à narrativa constituir-se em formas fixas.(*)Essência da Poesia - Ensaístas e filósofos já se preocupavam então com a essência da poesia, numa tentativa de desligá-la da matriz onde fermentara com outras expressões, que também foram conquistando autonomia e passando, por características afins, à qualidade de gêneros. A poesia, ligada à estrutura da narrativa, é a expressão artística que mais discussões tem suscitado em relação à sua essência.Platão, relativamente próximo às formas primitivas, classificou-a entre as artes representativas, ou artes plásticas, ao lado da dança e do teatro. Entre o filósofo grego e os modernos estudos da ensaísta norte-americana Susanne Langer há uma longa escala interpretativa. Para ela, a poesia não é mais representativa, pois desvinculou-se da preocupação de imitar a natureza. O inglês Herbert Read chega a conclusões semelhantes, quando estabelece a diferença entre poesia e prosa: "Na prosa, as palavras implicam, geralmente, a análise de um estado mental, ao passo que na poesia as palavras aparecem como coisas objetivas, que mantêm uma definida equivalência com o estado de intensidade mental do poeta." Prosa" é uma palavra de duplo sentido, pois pode designar uma forma (um texto escrito sem divisões rítmicas intencionais -- alheias à sintaxe, e sem grandes preocupações com ritmo, métrica, rimas, aliterações e outros elementos sonoros), e pode designar também um tipo de conteúdo (um texto cuja função lingüística predominante não é a poética, como por exemplo, um livro técnico, um romance, uma lei, etc...). Na acepção relativa à forma, "prosa" contrapõe-se a "verso"; na acepção relativa ao conteúdo, "prosa" contrapõe-se a "poesia".
Linguagem Conotativa e Denotativa
· Linguagem Conotativa
Apesar de todas as mudanças que ocorrem na literatura, existem características que lhe são peculiares e que atribuem um caráter “literário” a um determinado texto. Uma delas é o uso da linguagem conotativa. Este tipo de linguagem se manifesta quando a palavra ganha um sentido diferente daquele que normalmente atribuímos, distanciando-se do conceito dicionarizado, dizemos que está em sentido figurado, ou seja, conotativo.
Veja o exemplo:
“Meu Deus, eu quero a mulher que passa
Seu dorso frio é campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na sua boca fresca”

(Vinicius de Morais)
O texto de Vinícius de Moraes, A mulher que passa, estaria nos indicando a figura da mulher cujo corpo contém um campo de lírios? Obviamente que não, mas através da linguagem figurada associa a cor do corpo, o perfume a essas qualidades do lírio. A isso se chama conotação. Porém, há alguns textos que não se encaixam nessas características, não podendo utilizar-se da conotação. São aqueles que, ao contrário do texto literário são pensados de forma objetiva, para que tenham apenas uma interpretação. Neles a linguagem usada é denotativa, ou seja, a palavra em seu sentido próprio. O texto jornalístico é um bom exemplo de texto não literário, mas existem outros, como os científicos ou instruções de manuais, em que a linguagem deve ser denotativa, ou seja, objetiva, sem dar margem a mais de uma interpretação.
Veja o exemplo abaixo:
Para estimular o lazer, os japoneses colocam uma praia e uma pista de esqui dentro dos prédios.
Muitos japoneses vão poder esquiar numa montanha gelada em pleno verão e ir à praia durante o inverno. Entra em funcionamento oficialmente nesta semana na cidade de Miyazaki, na Ilha de Kiushu, a quase 1500 quilômetros de Tóquio, o complexo de lazer Seagaia, o maior do gênero no mundo em ambientes fechados. Seagaia é uma praia de água doce com ondas artificiais tão grandes e regulares que o visitante pode até praticar surfe com prancha e tudo.
(Veja, 4 de agosto de 1993, p.40)
A notícia de construção da praia tem que estar clara, para que se tome conhecimento sobre a sua inauguração. Como se pode perceber, existe a necessidade de que se entenda a mensagem emitida de forma clara, sem duplas interpretações, o que se pode ser alcançado com o uso da linguagem denotativa.
Figuras de Linguagem
· Figuras de som
A) Aliteração: consiste na repetição ordenada de sons consonantais idênticos.
“Quem madruga sempre encontra Januária na janela” (Chico Buarque)
B) Assonância: consiste na repetição ordenada de sons vocálicos idênticos.
“Sou um mulato nato no sentido lato” (Caetano Veloso)
C) Paranomásia: consiste na aproximação de palavras de sons parecidos
“Violência, viola, violeiro” (Edu Lobo)
· Figuras de construção
A) Elipse: omissão de um termo facilmente identificável pelo contexto.
“ Na sala, apenas quatro ou cinco convidados” (Machado de Assis) (Omissão de havia)
B) Zeugma: omissão de um termo que já apareceu antes.
Ele prefere cinema: eu, teatro (omissão de prefiro)
C) Polissíndeto: repetição de conectivos ligando elementos da frase ou do período.
“E sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob o sarcasmo”
(Carlos Drummond de Andrade)
D-)Pleonasmo: É o uso de termos desnecessários, isso só é válido quando os termos usados têm finalidade expressiva de repetição. O pleonasmo pode ser Semântico ou Sintático.

EX: Vi com meus próprios olhos. (Semântico)

A mim me parece óbvio. (Sintático)

D-) Anacoluto É a falta de nexo entre o começo e o final da frase.

EX: Eu parece que estou com sono.

E-) Silepse É a concordância com a idéia, não com a escrita. Pode se de três tipos: Silepse de Gênero, de Número e de P essoa.

Exemplos de Silepse:

Silepse de Gênero: Ocorre quando o predicativo que combina com a idéia está implícita, e não com a forma escrita.

EX: Rio de Janeiro é fria. (A cidade do Rio de Janeiro é fria.).

Silepse de Número: Ocorre quando uma palavra que está no singular, mas indica mais de um ser.

EX: Estamos muito feliz por você. (Estou muito feliz = Estamos muito feliz.).

Silepse de Pessoa: Ocorre quando o verbo aparece na 3ª pessoa e o verbo na primeira. A idéia é que se integra o sujeito.

EX: Dissemos que os gaúchos somos poucos.

F-)Hipérbato: É na ordem natural e direta dos termos da oração.

EX: Passeiam, à tarde, as belas na Avenida.
· Figuras de Pensamento

G-)Hipérbole: É o exagero em uma idéia.

EX: Tentei mais de mil vezes te ligar e não consegui.

H-)Lilotes: É o contrário de hipérbole.

EX: Não estou nada contente com você.

I-)Eufemismo: É a utilização de palavras ou expressões agradáveis em troca das que tem sentido grosseiro.

EX: Por favor, onde fica o toalete. (Toalete = Banheiro)

J-) Ironia :Sugere pela entonação e pela contradição de termos, o contrário do que a palavra ou orações parece dizer.

EX: Ele é gentil como um cavalo chucro.

K-)Prosopopéia: É a atribuição de sentimentos humanos em animais, objetos ou seres inanimados.

EX: As árvores estão chorando.

L-) Antítese: Consiste em opor a uma idéia outra de sentido contrário.

EX: Não haveria luz se não fosse a escuridão.

· Figuras de palavras

A-) Metáfora: consiste em empregar um termo com significado diferente do habitual, com base numa relação de similaridade entre o sentido próprio e o sentido figurado. A metáfora implica, pois, uma comparação em que o conectivo comparativo fica subtendido.

“Meu pensamento é um rio subterrâneo” (Fernando Pessoa)
B-) Metonímia: como a metáfora, consiste numa transposição de significado, ou seja, uma palavra que usualmente significa uma coisa passa a ser usada com outro significado. Todavia, a transposição de significados não é mais feita com base em traços de semelhança, e sim de antiguidade. Observe:

Pão para quem tem fome (pão em lugar de alimento)

C-) Sinestesia: consiste em mesclar, numa expressão, sensações percebidas por diferentes órgãos do sentido.

A luz crua da madrugada invadia o meu quarto.

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