segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Análise do conto: Antiperipléia – J. G. Rosa.

O Autor
João GUIMARÃES ROSA nasceu em Cordisburgo-MG, em 1908, transferindo-se para Belo Horizonte em 1918, onde cursou Medicina, a partir de 1925. São desta época os primeiros prêmios que conquistou, com alguns contos enviados à revista "O Cruzeiro". Inicia a carreira de médico em 1931 em Itaúna, interior de Minas Gerais, um ano após se casar com Lygia Cabral Pena, com quem teve duas filhas .Dois anos depois entra para a Força Pública, como oficial médico do batalhão sediado em Barbacena, também interior de Minas Gerais, na época da conflagração de 1932.
Inicia a carreira diplomática em 1934, após ter sido aprovado em concurso para o Itamarati. Dois anos depois seu livro de poesias, Magma, ganha o prêmio máximo da ABL Em 1946 GUIMARÃES ROSA publica Sagarana, seu primeiro livro, cujos contos foram escritos dez anos antes e lhe valeram o prêmio Humberto de Campos, da Livraria José Olympio. Trabalha como cônsul-adjunto em Hamburgo, como secretário da embaixada em Bogotá e em Paris e como chefe de gabinete do ministro João Neves da Fontoura.
No ano de 1956 GUIMARÃES ROSA publica dois livros: Corpo de Baile e aquela que seria considerada sua obra máxima: Grande Sertão: Veredas. Cinco anos depois a Academia Brasileira de Letras concede-lhe o prêmio Machado de Assis pelo conjunto da obra, Sagarana é editado em Portugal e a primeira tradução de Corpo de Baile é publicada na França. Um ano antes de ser eleito para a ABL (1963), publica Primeiras Estórias. Quatro anos depois publica Tutaméia e falece três dias depois de tomar posse na ABL. Estas Estórias e Ave, Palavra são publicados postumamente (1969).
Análise do conto: Antiperipléia – J. G. Rosa.
Nesta obra o autor dá continuidade aos experimentos de compactizar Estórias, tornando-as rápidas mais não menos bela. Cada Estória contada capta episódios aparentemente banais. As ocorrências farejadas pelos protagonistas transformam-se em símbolos metamorfozeados de uma espécie de milagre que surge do nada, do que não se vê, como diria o próprio Guimarães Rosa: “Quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo.” Esses milagres podem ser, então, responsável pela poesia extraída dos fatos mais corriqueiros, pela beleza de pensar no cotidiano e não apenas vivê-lo, pelo amor que pode se pode Ter pelas coisas da terra, pelo homem simples, pelo mistério da vida.
Este conto, o primeiro de Tutaméia (ou Terceiras Estórias), terá como protagonista uma personagem muito interessante, pela sua profissão. Prudenciano é guia de cego. “Patrão meu, não. Eu regia – ele me acompanhava(...) ”. Esta atividade foi muito desempenhada por crianças do sertão que por serem parentes do cego mediante remuneração: “ele me dava cachaças, comidas.” passam toda a infância e parte de sua adolescência a vagar com o seu “regido” de vila em vila: “Aqui paramos, os meses, por causa da mulher....”
Porém, esse guia, desde o começo da história, dialoga com um delegado que pede que saia do Vilarejo por causa da misteriosa morte de seô Tomé, homem que ele guiava. Ele hesita, com medo das acusações que todos fazem.
“E vão me deixar ir? Em dês que o meu cego seô Tomé se passou, me vexam, por mim puxam, desconfiam discorrendo. Terra de injustiça.”
Em seu diálogo com o delegado ele diz que há coisas que todos desconhecem, pois o cego encontrava-se escondido com uma mulher, que não tinha, assim, uma aparência tão formosa: “as coisas começam deveras é por detrás do que há, recurso: quando no remate acontecem, estão já desaparecidas.” E pelo fato do delegado não lhe Ter perguntado nada, diz que vai lhe contar o que se sucedera. Começa narrando o seu relacionamento com seô Tomé, e como ele era desejados pelas mulheres. E o cego, sem ver, pedia para que ele – que ao contrário do cego, era feio e pouco desejado - descrevia a formosura das mulheres que a ele desejavam. Um fato interessante é que ambos (o cego e o guia) se invejavam. O guia, para suprir esta falta bebia: “Bebo, para impor em mim amôres dos outros.” E quando o guia se embriagava, o cego tinha de esperá-lo: “Bebo. Tomo até me apagar, vejo outras coisas. Ele carecia de esperar...”
Em um certo dia eles chegam ao vilarejo e logo essa mulher, a Sa Justa, vai pedir ao guia que descreva ela, que era “muito feia”, como uma mulher formoso para o cego, a mais formosa de todas. Diante de tais descrições, o cego logo se apaixona e passa a encontrar-se, às escondidas, com a mulher. Ela, era casada, contudo seu marido desgostava dela. “O marido desgostava dela, druxo homem, de estrambolias, nem vinha em casa..”. Mas era preciso cautela. Assim a cada novo encontro a mulher pedia ao guia que descrevesse malucas belezas. De observar o quanto a mulher ficava com o guia o cego começou a se inciumar. O marido da mulher, que com o guia bebia e já deveria Ter consciência do caso, a toda hora queria o dinheiro da sacola, que era arrecadado pelo cego. Esmolas.
Até que uma certa noite, o cego cai de um precipício, e todos acham que o guia é culpado. Ele, que se embriagara na noite do incidente diz que: “Seô Tomé, no derradeiro, variava: falando que voltara a enxergar.” Assim ele elenca algumas suposições sobre o autor do crime, se assassinato ou o caso de suicídio, pois se o cego realmente tivesse, realmente, voltado a enxergar, avistaria toda a feiura de Justa, pode Ter se desiludido de tal forma e se jogado. Já no caso de assassinato, o primeiro a ser sugerido seria o esposo, que desgostoso com a traição ou até mesmo para roubar a sacola com as esmolas, empurrara o cego ladeira abaixo. Ainda sugere a própria mulher, após Ter tomado consciência de que o cego voltara a enxergar, o empurrara para não ver o assombro de seus traços. Ele acaba dizendo ao delegado que vai para a cidade somente se for para voltar a guiar cegos.
Elaborado por Francisco Muriel. (análise apresentada à discplina de LIteratura Brasileira III, no curso de linceitura em Letras Vernáculas e Clássicas da Uel-Londrina)

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