Para se começar a análise deste auto, é mister que primeiro salientemos sobre a troca de nome ocorrida com esta peça. Já sabemos, através de seu prólogo, que foi representada ao, então, príncipe D. João III e sua côrte de nobres cristão nas matinas (missas rezadas no período matutino) no natal do ano de 1534 (Cabe salientar aqui também que este será um dos últimos autos representado pelo autor em vida). Os atos são introduzidos por um Frade que parafraseia – toma uma estrutura para transformá-la ou modificá-la – um “Sermão Escolástico” com comicidade e uma certa dose de crítica e nele é anunciado que se trata de um “mistério”:
“(...) Mandaram-me aqui subir
(...) para aqui introduzir
(...) A qual obra é camada
os mistério da virgem (...)”
Este, então, foi o nome dado por Gil Vicente à peça. “Mistério” por apresentar episódios da Bíblia e “da virgem” por representar os episódios da Virgem Maria, mãe de Jesus. Porém, o nome que ficou fixado na memória dos espectadores foi o de Mofina Mendes, pastora que é responsável por um episódio que intercalam os dois mistérios da peça e que divertiu o público ao descrever como morreu ou dispersou-se todo o rebanho de seu patrão (PAIO), com uma linguagem popular e despojada, o que é denominado por críticos como “Linguagem Baixa” . É adicionado a classificação de auto, quando queriam remeter-se a peça após sua representação, pois na Idade Média, a os primeiros teatros foram religiosos e assim ficou conhecida como “O Auto de Mofina Mendes”.
Como já ficou dito, mistério são peças que representam episódio bíblicos e neste serão narrados episódios do evangelho. Em seu inicio, nota-se o discursos eloqüente do frade que introduz as figuras que hão de vir com todos os seus aparatos (a Virgem e suas quatros criadas: a Prudência, a Pobreza, a Humildade e a Fé). Assim já podemos notar que o assunto tratado será referente ao nascimento do Messias.
A Anunciação: esse ato começa com a virgem vestida de rainha e acompanhada de suas quatro criadas que personificam suas virtudes, tendo em suas frentes “quatro anjos com músicas”. Suas criadas possuem, cada qual, um livro, símbolo da sabedoria e a virgem perguntam a elas o que lêem. A primeira a responder é a Prudência que conta para Maria uma profecia sobre a vinda de um “um deus que será humano”, e quem faz essa profecia é a Sibila Ciméria.
Convém aqui, abrir um parágrafo especial para tratar das Sibilas que eram, desde a Antiguidade, fonte de inspiração de muitas obras literárias por seu dom de preverem os acontecimentos e profetizarem sobre elas. O nome Sibila significa uma voz ou uma condição.
Voltemos a profecia da Sibila Ciméria que em uma escala de dozes Sibilas ocupava o quinto lugar e a quem é atribuída a responsabilidade de ser ama de leite de Jesus. Ela prevê que a progenitora do Messias seria uma virgem sem pecado. A Pobreza é a segunda a ler outra profecia sobre a vinda do salvador, esta será profetizada pela Sibila Erutea Profetiza, uma das mais velhas das Sibilas que previu aos gregos sua vitória sobre os troianos, graças à seu Dom de conhecer o passado e futuro. Ela diz que o Messias nascerá “sem cueiro e sem camisa”. Logo é a vez da Humildade ler a profecia que Isaias faz, ressaltando a virgindade da mãe do messias, sendo seguida pela Fé que cita um profecia da Sibila Cassandra, filha de Príamos, rei de Tróia, que segundo a mitologia teria negado a deitar-se com Zeus, em troco do dom profético e como castigo recebeu esse dom somente para prever a sua ruína, junto com a do reino de seu pai. Também previu o nascimento de Jesus ao imperador romano César Augusto, mostrando-lhe uma visualização da virgem e o menino em luz e glória e sua profecia é justamente essa visualização que fez com que Imperador mandasse executar todas as crianças nascidas naquele tempo.
Segue-se vários discursos acerca das profecias sobre o nascimento de Jesus lidas pelas virtudes da Virgem que citam, Jacó, Salomão, Noé, Arão, entre outros, e a virgem, apesar das características narradas, não se identifica como a escolhida, o que ocorrerá apenas com a vinda do Anjo Gabriel que fará a anunciação, embora, inicialmente, ela renegue essa possibilidade, o anjo auxiliado pelas próprias virtudes da Virgem vencem sua resistência e ela entrega-se ao seu destino.
Após a anunciação, segue-se um episódio com a finalidade de divertir e descontrair o público que deveria já estar tenso e enfadado de um tema tão sério e respeitoso. O Episódio da pastora desastrada que perdera todo o rebanho de seu patrão, era carregado do Cômico e do Satírico. Então a platéia se divertia com a linguagem baixa da pastora e ao mesmo tempo preparava-se para um novo tema sério: O Nascimento de Messias.
A Contemplação ao Nascimento de Jesus: a virgem faz um discurso sobre a chegada do menino Jesus e o cumprimento do verbo, enquanto José e a Fé, sua criada, procuram uma candeia para iluminar a manjedoura onde nascerá o messias, e embora achem, essa não produz luz. Enquanto isso Maria conversa com suas virtudes até que ouve-se o choro da criança. Após o nascimentos o Anjo aparece aos pastores se anuncia o nascimento do salvador pedindo-lhes que vão até a manjedoura contemplar e saudar o messias.
Para encerrar esta análise, ressaltaremos como o autor tornou visível o invisível, mostrando-nos a conversa da virgem com sua consciência, quadruplicada nas pessoas da Prudência, Pobreza, Humildade e Fé.
Elaboração: Francisco Muriel. (trabalho apresentado à disciplina Literatura Pòrtuguesa III do Curso de Lincenciatura em Letras Vernáculas e clássicas -UEL.Londrina)
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
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