A Literatura Infantil Brasileira Civiliza-se... (1945-1965)
Este seminário, apresentado no dia 01/06/2006, teve como principal objetivo tratar das características literárias comuns nas obras Infanto-juvenis publicadas nesse período, assim como naquelas que fogem a essas características comuns. Porém antes de qualquer cotejo literário, há mister que se verifique o contexto de sua produção, pois ele, além de se refletir nessas obras, oferecerá condições para que se entenda, nas entrelinhas, o significado total e real dessas obras.
Começa-se, então, pelos acontecimentos nacionais e mundiais que serão importantes para o nosso estudo:
· 1942 – Getúlio Vargas se vê obrigado a declarar guerra aos países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão);
· O Brasil alinha-se aos países aliados – Inglaterra, França, Estados Unidos da América (EUA) e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS);
· Contradição entre o governo autoritarista de Vargas – que teve como molde de sua constituição o regime fascista de Mussolini – e o modelo liberalista dos novos parceiros (países aliados);
· Apesar de sua condição neutra, o Brasil se viu obrigado a entrar na 2.º Guerra Mundial (pelos ataques aos navios brasileiros) com a intenção de garantir o domínio sobre o Atlântico Sul;
· Começa uma política de boa vizinhança entre o Brasil e os EUA (Roosevelt visita o Brasil, e a Walt Disney cria o personagem Zé Carioca a fim de simbolizar nossa nacionalidade; os EUA inserem seus produtos no mercado nacional);
· Culturalmente, o Brasil sempre foi influenciado pelo pensamento francês, porém a partir dos anos 30 e 40 – quando surgem os veículos da cultura de massa (cinema e histórias em quadrinho) –, os produtos norte-americanos invadem o país promovendo profundas transformações culturais;
· Passa-se a considerar que o importado é melhor que o nacional (contrariamente ao nacionalismo de Vargas);
· Depois da guerra, o país deseja se livrar do nacionalismo exacerbado e autoritarista emanado no Estado Novo (Getúlio);
· O novo sistema político implantado depois de 1945 conduziu a uma mudança cultural pautada nos novos amigos do Brasil (países aliados), que expressavam suas culturas não só por imagens democráticas e livres, mas também de maneira moderna e refinada.
Convém ainda, ressaltarmos os acontecimentos culturais que ocorreram nesse momento como a introdução do cinema e das revistas em quadrinhos americanos no país, aos quais se conhece como “cultura de massa”- lembrando que esse tipo de produção mantinha na época uma imagem elevada.
No campo da literatura Brasileira, os escritores procuravam valorizar as formas acadêmicas numa linguagem poética menos coloquial e sua obras promoviam um fracionamento da linearidade do discurso verbal, o que dificultava o entendimento e reduzia o números de leitores. Assim a literatura torna-se altamente qualificada, mas para um público restrito que se limitam à cultura de massa. Dentre os grandes nomes dessa fase, pode-se salientar: João Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Autram Dourado entre outros.
Já no que tange a literatura Infantil, além de se conservar algum vínculo com o nacionalismo do período anterior, tentou contornar os perigos da vulgarização ou da associação ao popular. Há ainda, em relação ao espaço das histórias, a preservação das áreas rurais (sítios, fazendas cafeeiras, terras desconhecidas e desbravadas pelos Bandeirantes, etc.) como palco das ações narradas. A grande diferença com o período anterior é que agora os personagens não são habitantes das fazendas, mas sim crianças do meio urbano que vão, a procura de lazer, para os espaços rurais e lá acabam se envolvendo em grandes aventuras como salvar a fazenda da falência, perder-se ou encontrar-se lugares desconhecidos, etc.
Outro veio temático são as trajetórias dos Bandeirantes, com suas façanhas, à procura de riquezas no interior do Brasil. Um segundo caráter bastante significativo deste veio é em relação às personagens que não são mais crianças e sim adultos ou jovens que amadurecem durante o episódio.
Ainda, deve-se ressaltar: participação de personagens indígenas, especialmente como subalternos dos brancos e sempre do lado errado, a não ser quando se civiliza, convertendo-se ao cristianismo; a pouca presença do humor, tão presentes em fases anteriores; o reflexo da desigualdade social e preconceito das classes dominantes nas personagens (os brancos em geral tem um serviçal índio ou caipira).
Entre os autores desse período pode-se ressaltar: Francisco Marins, Maria José Dupré, Lúcia Machado de Almeida, Alfredo Mesquita e Hernâni Donato.
Passaremos agora a tratar de um autor, Jeronymo Monteiro, que merece destaque entre os outro, por ter seguido um estilo próprio e muitas vezes contraditório às características da época. Seus heróis são aventureiros inescrupulosos e ambicionam as riquezas das populações selvagens, que segundo o autor são mais civilizadas e superiores pela dedicação aos cultos religiosos, à reflexão e à sabedoria. Seu índio, é a grande vítima da ambição humana e a Amazônia – seu habitat – a revelação do paraíso.
Jeronymo Monteiro ainda evita o padrão bem comportado, as histórias emuladoras de atitudes ideais, as crianças exemplares, adotando, à seus pequenos personagens, posturas negativas. Em suas obras nota-se, também, as atitudes de seus personagens adultos que passam ver o mundo com olhos de crianças e transmitem à elas o poder. Há ocorrências de intertextualiades com técnicas de Monteiro Lobato (A chave do Tamanho), além da inversão de papéis entre brancos e índios – em uma de suas obras o jovem branco é educado pelos índios.
Para finalizar, nota-se que apesar de ter preservado algumas característica dos momentos anteriores, essa fase representou mudanças na nossa literatura infanto-juvenil, com inovações de autores como Jeronymo Monteiro, e serviu de base para mudanças que se verá em períodos posteriores.
Segue-se em anexo, textos que no seminário foram analisados, principalmente com o enfoque do contraste entre os textos dos demais autores desse período e os de Jeronymo Monteiro.
Professor: Francisco Muriel
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