Análise do Conto: O pirotécnico Zacarias – Murilo Rubião
O conto começa com o narrador- protagonista questionando sobre a morte do “pirotécnico Zacarias”, que mais tarde se saberá, trata-se do próprio narrador. Ele segue tentando explicar : “uns acham que estou vivo – o morto tinha apenas alguma semelhança comigo. Outros mais supersticiosos, acreditam (...) que quem andam chamando Zacarias não passa de “alma penada”.
O narrador continua tecendo reflexões sobre sua situação de “morto-vivo” e como os antigos amigos, pessoas conhecidas, fogem dele quando o encontra nas ruas, algumas até se assustam, assim, ele não têm oportunidade de explicar o ocorrido. Mas mesmo assim, ele tenta:
“em verdade morri(...). Por outro lado, também não estou morto, pois faço tudo que antes fazia e, devo dizer, com mais agrado do que anteriormente. “
Zacarias começa, então, narrar os fatos que colocaram-no naquela situação, quando em uma noite, voltando de uma festa, fora atropelado:
“A princípio foi azul, depois verde, amarelo e negro. Um negro espesso, cheio de listras vermelhas, de um vermelho compacto, semelhantes a densas fitas de sangue. Sangue pastoso com pigmentos amarelado, de um amarelo esverdeado, tênue, quase sem cor.”
A partir daí, o narrador revive momentos, como em flash-back, de sua infância, lembranças de uma professora invadem sua memória. É quando o grupo de jovens, moças e rapazes, discutem sobre o que fariam com o cadáver. Inicialmente eles discutiam em voz baixa e com medo. Contudo, passado alguns minutos, passam a falar alto e tratar o fato como algo corriqueiro. Mas a indignação do defunto-narrador aumenta com os planos que os jovens têm, para desfazer-se de seu corpo. A primeira idéia, a de levá-lo a um necrotério logo foi rejeitada, pois sujaria o carro. Depois um jovem propôs que deixassem as moças e levassem o corpo até um cemitério, o que foi visto como bobagem pelos demais companheiros e por último decidiram lançar o corpo de um precipício , o que não interessava, nada-nada, o defunto.
“mas aquele seria um dos poucos desfechos que não me interessavam. Ficar jogado em um buraco, no meio de pedras e ervas, tornava-se para mim a idéia insuportável.”
E aí que o defunto decide dar sua opinião. “Alto lá! Também quero ser ouvido.” Ao ouvir tais sentenças, o jovem que tinha opinado em levá-lo para um cemitério desmaiou. Assim, “para tornar a situação mais confusa , sentiam a impossibilidade de dar rumo a um defunto que não perdera nenhum dos predicados geralmente atribuídos aos vivos.”
Foi quando um deles sugeriu que Zacarias vestisse as roupas do jovem que havia desmaiado e seguissem com a farra. Foi o que aconteceu, a noite inteira beberam, cantaram e até uma dama foi designada a ser acompanhante do defunto.
Na manhã seguinte, perguntaram onde Zacarias queria ficar, ele disse que em um cemitério, a turma respondeu que seria impossível , pois naquela hora, nenhum estaria aberto. Mas o problema maior foi a aceitação das pessoas já que:
“não fosse o ceticismo dos homens, recusando-se a aceitar-me vivo ou morto, eu poderia abrigar a ambição de construir uma nova existência.”
Zacarias tenta restabelecer contato com os amigos daquela fatal noite, só eles eram testemunha de sua morte, mas não os encontra. Agora, morto-vivo, Zacarias tenta provar que mesmo morto consegue amar e sentir as coisas, ainda mais do que quando estava vivo.
Difícil é discutir sobre a caracterização desse conto entre meramente estranho, fantástico ou maravilhoso, tendo em vista que o fantástico, segundo Tzvetan Todorov, em seu livro Introdução à Literatura Fantástico, seria “uma hesitação entre o estranho e o maravilhoso”. O estranho seria quando estamos de frente a um frente com um algo extraordinário/sobrenatural, mas tudo nos é explicado. Já o maravilhosos se dá quando não encontramos explicação alguma e esta só pode ser admitida pela fé na religião ou na magia. E se, segundo ele, o fantástico estaria numa hesitação entre o estranho e o maravilhoso, difícil e discutível, seria apontar o fantástico nessa hesitação entre dois gêneros.
Por isso, retomaremos Aristóteles, um dos primeiros a se dedicar aos estudos literários, que desenvolveu o principio da arte como imitação da realidade, verossimilhança. Assim, se a literatura fantástica é aquela que se afasta do preceito clássico da verossimilhança, então, temos sim um conto Fantástico.
Como hipótese de uma possível interpretação do conto, podemos crer que o protagonista morto em um atropelamento, mas que continua com todos os predicados de um vivo, simboliza uma transformação pela qual todos passamos um dia. Quantas gente nos atropela e quantas vezes somos atroplelados por alguém e tornamos e somos tornados como zumbis, mortos-vivos, para a família, para os amigos e muitas vezes para a sociedade.
Reparemos na desabafo de Zacarias:
“A única pessoa que poderia dar informações certas sobre o assunto sou eu, porém estou empedido de fazê-lo porque meus companheiros fogem de mim, tão logo me avistam pela frente. Quando apanhados de surpresa, ficam estarrecidos e não conseguem articular palavras. Em verdade morri,(...)”
Organização: Professor Francisco Muriel
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7 comentários:
Gostei da analise do conto muito interessante a historia
Bom, o conto é realmente fantástico porém não entendi se de fato zacarias esta em estado de morto-vivo ele deveria se apresentar como uma alma penada,mas o fato de ter continuado a farra com os amigos exclui essa hipótese, como é possivel encontrar um morto-vivo vagando naturalmente com seu próprio corpo?
esse conto fantastico é muito alem de um simples e normal a esse genero... nos remete a uma serie de coisas de certa forma pre concebidas.Mas nos questiona a real autenticidade de cada alma. Cláudia.S.W
Gostei muito vai me ajudar em minha prova!
o conto e relmente fazinante mas nn consiguo entender se zacaias morreu ou nn ,mas nn mi deixa duvidas auma q o conto e mesmo fazinante
parabes murilo rubiao ,como senpre vc nunca deixa a desejar os seus contos fantasticos .. que nen vejo ler viajo maravilhosamente en suas historias
Muito bom
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