O Sertanejo – José de Alencar
CRONOLOGIA DO AUTOR:
1° de maio de 1829: nasce José Martiniano de Alencar Júnior, filho de José Martiniano de Alencar (deputado pela província do Ceará e padre, na época) e Ana Josefina de Alencar (prima legítima do deputado e padre), no Sítio Alagadisso Novo (localizado na Friguizia di Mecejana, Ceará);
1830: Embarca com a família para o Rio de Janeiro, onde o pai assumiria o cargo de senador. Retorna a Fortaleza em 1834, época em que José Martiniano (pai) fora eleito governador do Ceará. Aos dez anos, muda-se, definitivamente, para o Rio (o pai é, outra vez, senador; Alencar começa os estudos no Colégio de Instrução Elementar);
1844: Vai a São Paulo, preparar-se para os exames na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (inicia o curso em 1846). Forma-se advogado em 1850, exercendo a profissão, no Rio de Janeiro, a partir do ano seguinte;
1854: Estréia como jornalista, assinando a seção ``Ao correr da pena'' (crônicas), no Correio Mercantil. Permanece até 1855, seguindo carreira jornalística e iniciando-se na literária no Diário do Rio de Janeiro;
1856: Sai, em folhetins, o romance Cinco Minutos, obra inaugural do escritor. Até a segunda metade da década de 1870, José de Alencar fomenta uma obra que perpassa os universos indianista, urbano, histórico e regionalista;
1857: Inicia a produção teatral com a peça Verso e Reverso. Até 1861, consolida-se no teatro nacional;
1860: Morre o pai do escritor.
1861: É eleito deputado geral pelo Ceará (reelege-se outras três vezes: 1869-72, 1872-75, 1876-77). Em 1868, chegou a Ministro da Justiça. Só não conseguiu assumir o cargo de senador, para o qual foi eleito em 1869, porque teve o nome vetado pelo imperador Pedro II;
1864: Casa-se com Georgiana Augusta Cochrane de Alencar, filha de um médico inglês. Com ela, teve seis filhos: Augusto, Clarisse, Ceci, Elisa, Mário e Adélia.
12 de dezembro de 1877: Morre no Rio de Janeiro, aos 49 anos, sucumbido pela
CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS e PRINCIPAIS OBRAS
José de Alencar é considerado o maior romancista do Romantismo brasileiro, bem como um dos maiores de nossa literatura. Abrangeu em sua obra todo um perfil da cultura brasileira, na busca de uma identidade nacional que transcorresse o seus aspectos sociais, geográficos e temáticos, numa linguagem mais brasileira, tropical, sem o estilo português, que até então rodeava os livros de outros romancistas. Conseguiu escrever de forma primorosa sobre os mais importantes temas que estavam em voga na literatura da época, descrevendo desde a sociedade burguesa do Rio até o índio ou o sertanejo das regiões mais afastadas. Toda a sua extensa gama de romances pode ser dividida em quatro temas distintos: romance urbano, romance indianista, romance regionalista e romance histórico.
O romance urbano de Alencar segue muitas vezes o padrão do típico romance de folhetim, retratando a alta sociedade carioca com todas as suas belas fantasias de amor. O romancista, no entanto, vai além: por trás de toda a pompa e final feliz onde todos os segredos e suspenses que se desenvolvem nas complicadas tramas são desvendados, está a crítica, a denúncia da hipocrisia, da ambição e desigualdade social. Alencar se especializou também na análise psicológica de suas personagens femininas, revelando seus conflitos interiores. Essa análise de caráter mais psicológico do interior das personagens remete sua obra a características peculiares dos romances realistas, sobretudo de Machado de Assis. Estes são seus romances urbanos: Cinco Minutos, A Viuvinha, Lucíola, Diva, A Pata da Gazela, Sonhos d'Ouro, Senhora [ver Antologia] e Encarnação.
As obras indianistas revelam sua paixão romântica pelo exotismo, encarnado na figura do índio, com todos os seus costumes, crenças e relações sociais. Sua descrição sempre se opõe à imagem do homem branco, "estragado" e corrompido pelo mundo civilizado. O índio de José de Alencar ganha tons lendários e míticos, com ares de "bom selvagem". Sua descrição muitas vezes funde seus sentimentos com a beleza e a harmonia exótica da natureza. Caracterizando a bondade, nobreza, valentia e pureza do selvagem, Alencar às vezes o aproxima dos cavaleiros e donzelas medievais, revelando um pouco dos traços românticos europeus que assolavam nossa cultura. Seus romances indianistas são: O Guarani [ver Antologia], Iracema [ver Antologia] e Ubirajara.
Seus romances regionalistas denotam o interesse e o exotismo pelas regiões mais afastadas do Brasil, aliando os hábitos sociais da vida do homem do campo à beleza natural das terras brasileiras. Se nos romances urbanos as mulheres são sempre enfatizadas, nas obras de cunho regional os homens são figuras de destaque, com toda a sua ignorância e rudeza, enfrentando os desafios da vida, sendo que as mulheres assumem papéis submissos, de segundo plano. Seus romances regionalistas são: O Gaúcho [ver Antologia], O Tronco do Ipê, Til e O Sertanejo.
Com seus romances históricos – As Minas de Prata e A Guerra dos Mascates – Alencar também buscou na passado histórico brasileiro inspiração para escrever seus romances, criando quase sempre uma nova interpretação literária a fatos marcantes da colonização, como o busca por ouro no interior do Brasil e as lutas pelo aumento das terras nas fronteiras brasileiras. Seus enredos denotam em vários momentos um nacionalismo exaltado e o orgulho pela construção da pátria.
Análise tradicional do Sertanejo.
As análises tradicionais das narrativas, principalmente os Romances Românticos do século XIX, consistem geralmente em, a priori, a investigar a vida do autor e os acontecimentos, de níveis locais e universais, de seu tempo. Em posteriori, focar-se no interior (conteúdo) da obra e dela extrair os seguintes elementos com o máximo de minúcias possíveis. São eles: Narrador, tempo, espaço, personagens e o enredo.
O Narrador: a história é narrada em terceira pessoa, por um narrador uniciente (que de tudo sabe) e observador (que não participa da história). Podemos dizer que nesta obra o narrador confunde-se com o próprio autor, pois ambos nasceram no sertão, o Estado é o mesmo. Esse narrador anseia por voltar a ver o sertão de minha terra nata. Isso nos dá indício de que ele o narrador está longe recordando o acontecido. Quando te tornarei a ver, sertão da mina terra, que atravessei há muitos anos na aurora serena e feliz infância?. Ele se mostra um grande conhecedor dos costumes e da geografia local. Assim o primeiro capítulo do “O Sertanejo” mostra os costumes e atividades do homem do sertão assim como sua forte ligação com a terra e a natureza.
O Tempo: O narrador data a chegada do comboio na fazenda como dez de dezembro de 1764. Vale lembrar que a corrida do ouro no Brasil data de 1705, a chegado do café, 1770, a inconfidência,1790, e a guerra de independência dos Estados Unidos, 1775.
O Espaço: O sertão de Quexeramobim na Serra de Santa Maria, Ceará.
Esta imensa campina... aí campeia o destemido vaqueiro cearence.
*Curiosidade: Chico Buraque de Iolanda, em sua música “Até o Fim”, menciona a cidade citada no livro. Porém, não se sabe se por influência da obra ou se por mera coincidência: confira um terchio da música:
(...) Eu bem que tenho ensaiado um progresso, Virei cantor de festim, Mamãe contou que eu faço um bruto sucesso, Em Quixeramobim, Não sei como o maracatu começou, Mas vou até o fim.
Personagens: capitão-mor Gonçalo Pires Campelo, sua esposa Genoveva, D. flor, Arnaldo, a criada Justa, o velho Jó, Aleixo Vargas (o Moirão), Marcos Fragoso e Leandro Barbilho.
O Enredo: com belas e radiantes cores a paisagem do sertão um destemido vaqueiro, a serviço capitão-mor, Arnaldo que enfrenta os mais sérios riscos na esperança de constar a simpatia da filha do fazendeiro. Arnaldo tem destaque nas cavalhadas a maneira medieval. Marcos Fragoso se faz seu único rival. Afinal Dona Flor é prometida a Leandro Barbilho. No instante casamento, surge os inimigos de Campelo. Encerra o tiroteio, morre Leandro Barbilho, Dona Flor lamente enquanto Arnaldo tenta consolá-la. O trecho selecionado permitirá a análise do relacionamento existente entre Arnaldo e D. Flôr. Possibilitando-nos a comparação com o trecho de Inocência. "Já tinham soado no sino da capela as últimas badaladas do toque de recolher. Por toda a fazenda da Oiticica , sujeita a um certo regime militar, apagavam-se os fogos e cessava o burburinho da labutação quotidiana. Só nas noites de festa dispensava o capitão-mor essa rigorosa disciplina, e dava licença oara is sanbasm que então por desforra atravessavam de sol a sol. Era uma noite de escuro; mas como o são as noites do sertão, recamadas de estrelas rutilantes, cujas centelhas se cruzam e urdem como a finíssima teia de uma lhama acetinada. A casa principal acabava de fechar-se e das portas e janelas apenas escapavam-se pelos interstícios uma réstias de luz, que iam a pouco extinguindo-se . Nesse momento um vulto oscilou na sombra, e coseu-se à parece que olhava para o nascente. Era Arnaldo. Resvalando ao longo do outão, chegara à janela do camarim de D. Flôr, e uma força irresistível o deteve ali. No gradil das rótulas recendia um breve perfume, como se por ali tivesse coado a brisa carregada das exalações da baunilha. Arnaldo adivinhou que a donzela antes de recolher-se, viera respirar a frescura da noite e encostara a gentil cabeça na gelosia , onde ficara a fraguância de seus cabelos e de sua cútis acetinada. Então o sertanejo, que não se animaria nunca a tocar esses cabelos e essa cútis, beijou as grades para colher aquela emanação de D. Flôr, e não trocaria decerto a delícia daquela adoração pelas voluptuosas carícias da mulher mais formosa. Aplicando o ouvido percebeu o sertanejo no interior do aposento um frolico de roupas, acompanhado pelo rumor de um passo breve e sutil. D. Flôr volvia pelo aposento. Naturalmente ocupada nos vários aprestos do repouso da noite. Um doce sussuro,como da abelha ao seio do rosal, advertiu a Arnaldo que a donzela rezava antes de deitar-se e involuntariamente também ajoelhou-se para rogar a Deus por ela. Mas acabvou suplicando a flôr perdão para a sua ternura. Terminada a prece a donzela aproximou-se do leito. O amarrotar das cambraias a atulharem-se indicou ao sertanejo que Flor despia as suas vestes e ia trocá-las pela roupa de dormir. Atraves das abas da janela, que lhe escondiam o aposento, enxergou com os olhos d'álma a donzela, naquele instante em que os castos véus a abandonavam; porém seu puro o céu azul ao deslize de uma nuvem branca de jaspe surgisse uma estrela. A trepidação da luz cega; e tece um véu cintilante, porém mais espesso do que a seda e o linho. Cessaram de todo os rumores do aposento, sinal de que D.Flôr se havia deitado/ Ouvindo um respiro brando e sutil como de um passarinho, conheceu Arnaldo que a donzela dormia o sono plácido e feliz. Só então afastou-se para acudir ao emprazamento que recebera"
Recomenda-se uma análise a luz da teoria dos actantes (Modelo Actancial de Greimas)
Organização: Professor Francisco Muriel
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
muito bom esse analise do livro
muito obrigado
vlw
Otima análise... ma ajudou muito.
Obrigado.
Me ajudou muito, muito obrigado!
Postar um comentário