Sobre as teorias de Baktin.
Carnavalização e Paródia: Gênero Popular
Baktin ocupou-se com a vida cotidiana da Idade Média e percebeu que haviam duas faces da existência de quem havia vivido naquela época, ou seja, tinham uma dupla existência:
- uma vivida no espaço fechado de casa – sujeitas as regras e normas de comportamento;
- outra vivida no espaço da praça – sem normas e regras, mas livre e cheias de profanações e sacrilégios
Assim, na Europa dos séculos XVI e XVII, o carnaval surgia como uma forma vitae em que as pessoas simples viviam duas vidas, uma subordinada as regras e outra, carnavalesca.
Baktin dizia que: “O carnaval é um espetáculo não para ser observado, mas para ser vivido, onde se tem as suspensões das regras, proibições que regem a vida normal”. Ao ocorrer essas supressões às leis e hierarquias que organizam nosso mundo cotidiano é virado ao avesso.
A carnavalização é um espetáculo sem palco e separação entre o público e atores, um novo modo de relações humanas, oposto às relações socioierárquicas todo-poderosas da vida corrente. A conduta, gesto e a palavra do homem se libertam da dominações hierárquicas (camadas sociasis, graus, idades, fortunas) que as determinam internamente fora do carnaval e se tornam excêntricas, deslocadas do ponto de vista lógica da vida habitual. (BAKTIN, Mikhail M. La Poétique de Dostoievski. Paris: Seuil, 1970).
A transposição do carnaval para a literatura é o que Baktin vai chamar de Carnavalização. Sobre os gêneros literários carnavalizados, ele discorre:
Um novo modo de relações humanas: oposto às relações hierárquico-sociais;
Excentricidade:O homem deixa de se retrair e se permite a tudo que estava reprimido;
Méssalinces: se refere a aproximação dos contrários;
Profanação: Formada pelos sacrilégios carnavalescos.
Para Baktin a interiorização dos procedimentos carnavalescos na prosa de ficção faz com que a literatura torne-se “Paródia”, ou seja, ambígua.
Paródia
A Paródia já era enlencada na “Poética” de Aristóteles e fazia menção a Hegemon de Tarso (séc. V a.C. ) que usava o gênero Épico para representar seres comuns inseridos na vida cotidiana – o que simboliza a inversão que, segundo Baktin, carateriza a Carnavalização. Etimologicamente, Paródia (de paro = ao lado + ode = canto) significa “canto paralelo” e para Baktin devia Ter a noção de palco de luta entre vozes contrárias (dialogismo) que seriam o Esopo – texto original – e a Paródia.
Com a noção de dialogiasmo, ou seja, duas vozes que coexistem em um texto, o autor define que estas vozes como atração e rejeição, resgate e repelência de outro texto, apresentando uma idéia de intertextualidade. Ele, ainda, estabelece o “estatuto da palavra”, unidade mínima de escritas em três dimensões, e que segundo a professora Josef seriam:
TEXTO = contexto atual
SUJEITO DESTINATÁRIO = instauram o diálogo
COTEXTO = contexto anterior (INSTAURAM A AMBIVALÊNCIA)
Baktin vê a Paródiua como elemento inseparável de todos os gêneros carnavalizados, pois, apesar de substanciais diferenças, apresentam traços comuns:
1º - Permitem reconhecer explicitamente uma semelhança com aquilo que nega;
2º - A palavra tem duplo sentido, voltando-se para o discurso de um outro e para o objeto de discuso;
3º - Apresenta imagens invertidas, ampliadas ou reduzidas, como num espelho.
Organização: Francisco Muriel
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2 comentários:
É um ótimo texto. Me ajudou, e muito, nos meus estudos. Abraços!!
Muito esclarecedor. Obrigada por postar! =)
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